"A Raça dos Homens de Ouro!"
Pandora foi quem iniciou a degradação da Humanidade.
Para Explicá-la, Hesíodo indroduz o mito das Cinco Eras.
No mito das Eras, as raças parecem suceder-se segundo uma ordem de decadência progressiva e regular.
De início, a humanidade gozava de uma vida paradisíaca, muito próxima da dos deuses, mas, se foi degenerando e decaindo até atingir a Era ou Idade do Ferro, em que o poeta lamenta viver, pois nesta tudo é maldade: até a Vergonha e a Justiça abandonaram a Terra.
Cada uma das Idades está “aparentada” com um metal, cujo nome toma e cuja hierarquia se ordena do mais ao menos precioso, do superior ao inferior: Ouro, Prata, Bronze, Ferro.
O que surpreende é que Hesíodo tenha intercalado entre as duas últimas mais uma: – a Era dos Heróis, que não possui correspondente metálico algum.
Há os que procuram explicar o fato por uma preocupação historicista, já que o poeta sabia que antes dele tinham vivido homens e heróis notáveis, que se imortalizaram em Tróia e em Tebas.
Era de Ouro dos Homens
Se queres, com outra estória esta encimarei; bem e sabiamente lança-a em teu peito! (Como da mesma origem nasceram deuses e homens.)
Primeiro de ouro a raça dos homens mortais criaram os imortais, que mantêm olímpicas moradas. Eram do tempo de Cronos, quando no céu este reinava; como deuses viviam, tendo despreocupado coração, apartados, longe de penas e misérias; nem temível velhice lhes pesava, sempre iguais nos pés e nas mãos, alegravam-se em festins, os males todos afastados, morriam como por sono tomados; todos os bens eram para eles: espontânea a terra nutri fruto trazia abundante e generoso e eles, contentes, tranquilos nutriam-se de seus pródigos bens. Mas depois que a terra a esta raça cobriu eles são, por desígnios do poderoso Zeus, gênios corajosos, cônicos, curadores dos homens mortais.
(Eles então vigiam decisões e obras malsãs, vestidos de ar vagam onipresentes pela terra) E dão riquezas: foi este o seu privilégio real. (HESÍODO)
Os homens mortais da idade de ouro foram criados pelos próprios imortais do Olimpo, durante o reinado de Cronos.
Viviam como deuses e como reis, tranquilos e em paz.
O trabalho não existia, porque a terra, espontaneamente, produzia tudo para eles.
Sua raça denomina-se de ouro, porque é o simbolo da realeza.
Jamais envelheciam e sua morte assemelhava-se a um sono profundo.
Após deixarem esta vida, recebiam o privilégio real, tornando-se intermediários na terra entre os deuses e seus irmãos viventes.
Esses grandes intermediários, assumem em “outra vida” as duas funções que, segundo a concepção mágico-religios, definem a virtude benéfica de um bom rei: como guardiães dos homens, velam pela observância da justiça e, como dispensadores de riquezas, favorecem a fecundidade do solo e dos rebanhos.
Curioso é que Hesíodo emprega as mesmas expressões, que definem os “reis” da Era de Ouro, para qualificar os “reis” justos do seu século.
Os homens da Era de Ouro vivem como deuses; os reis justos do tempo do poeta, quando avançam pela assembléia e, por meio de suas palavras mansas e sábias, fazem cessar o descomedimento, são saudados como um deus.
E assim como a terra, à época da Era de Ouro, era fecunda e generosa, igualmente a cidade, sob o governo de um rei justo, floresce em prosperidade sem limites.
Ao contrário, o rei que não respeita o que simboliza seu cetro, afastando-se do caminho, transforma a cidade em destruição, calamidade e fome.
É que, por ordem de Zeus, trinta mil imortais invisíveis vigiam a piedade e a justiça dos reis.
Nenhum deles, que se tenha desviado, desixará de ser castigado, mais cedo ou mais tarde.