"Em apenas um olhar."
“Em apenas um olhar”
Não me importa se acharem ridículo ou não!Eu chorei ao ver aquela mulher sofrida, muito jovem, com meia dúzia de filhos, uma escadinha!O mais velho cursando o oitavo ano do Ensino Fundamental.Cada um mais lindo do que o outro!Uma mistura de loiro com moreno, coisa fantástica! Ah, por que chorei? Chorei porque aquela mulher sofrida não desiste dos seus sonhos mesmo não tendo residência fixa.A vida dela é ficar no máximo dois meses em cada barraco sempre à procura de dias melhores!Assim que chega ao novo barraco, arruma os molambos, mas com fé, em seguida, dá início a uma horta.Reúne as crianças e unidos cada um cumpre uma tarefa.Não sei se é porque faz a plantação com amor,pois com isso ajuda na alimentação das crianças, loguinho, loguinho aquela área plantada provoca inveja aos que por ali passam.Juro que troquei meu trajeto de caminhada só para ficar namorando aquela horta e as crianças envolvidas na companhia da mãe.Que decepção!Ontem, quando passei, não estavam aguando,arrancando matinhos nos canteiros e nem a alegria que contagiava a todos. Então, vi uma caminhonete velha estacionada defronte ao barraco e com alguns pertences já colocado. Mais uma vez a ilusão daquelas criaturas de permanecerem ali, de colherem as hortaliças que já estão no ponto para saboreá-las está chegando ao fim! Estão rumando para outras plagas, deixando a horta linda, verde, com hortaliças variadas, fazendo inveja e com ela os sonhos de continuar saboreando o fruto do trabalho conjunto daquela mãe e seus filhos! Mas ela, principalmente, não perde a esperança de uma vida melhor. Muito alegre entra e sai com o restante dos pertences acomodando-os na caminhonete. Continuei minha caminhada e passei a reflletir. Veio-me à mente aquela letra de música: “Você jogou fora a minha ilusão... Que pena!” Por certo, assim que se enamorou do pobre coitado marido, não esperava por tanto sofrimento! Quando eu voltava, no término do percurso aquela caminhonete passou por mim e buzinou. Meus olhos, sem querer se encheram de lágrimas, meu coração ficou tão apertado! Quase não consegui me controlar! Lá foram eles em busca de novos sonhos, regando agora a esperança de preparar um pedacinho de terra,fazer nova horta e quem sabe, daqui a pouco deixar tudo novamente em busca de um trabalho ,uma vida melhor! Tentar viverem mais felizes!Veio-me, então, ao consciente outro momento de tristeza, pois a noite está chegando.São alguns quilômetros até o outro barraco!Será que aqueles inocentes dormirão com fome? É possível! Até descarregar os poucos pertences e colocá-los em seus devidos lugares é um tanto demorado. As crianças que andam de lá para cá o dia todo, levantam cedo, também adormecem cedo ainda mais viajando amontoados na cabine da caminhonete velha com a mãe e o motorista. Que Deus os proteja com a sorte de permanecerem na nova morada, simples, sem o conforto indispensável, mas num gesto de amor invejável nos dias de hoje! Que esta família possa desfrutar da nova horta,deliciando-se com os frutos do trabalho em conjunto.Tomara que não deixem novamente a próxima horta para trás,saindo em busca de novos sonhos e esperanças até agora quase em vão! É óbvio que amanhã , assim que começar o novo dia, lá estará aquela mãe e seus filhos preparando uma nova área, uma nova horta e com ela novos sonhos,pois para eles é indispensável os legumes e verduras que ali vingarão. Por isso não consigo esquecer aquela cena. Não é apenas esta família. São milhares iguais a esta! Andando à procura de um lugar para viver, de novas expectativas, de um salário melhor para dar uma vida mais digna aos filhos, um pedacinho de chão para construírem um barraco de seu, onde possam viver em paz, fixar raízes,pois esses brasileiros nem de longe se assemelham a ciganos,nem pensar! Ciganos vivem muito bem! É possível? Andam dizendo por aí que a pobreza está erradicada! Que esta afirmação se transforme em realidade brevemente para jamais presenciarmos cenas como esta ! Cadê as casas, “Minha casa, minha vida?” A mídia anunciou que o projeto está sendo negociado e muito bem, rendendo dividendos a alguns safados entre tantos que andam por lá!
Maria Augusta da Silva Caliari
Enviado por Maria Augusta da Silva Caliari em 11/11/2011
Alterado em 14/12/2015