"Um passado enterrado no gelo."
Esse assunto nos remete a uma ampla reflexão e por mais que se estude sobre o mesmo, mais dúvidas surgem fazendo com que nós, estudiosos, saiamos em busca de novos rumos para, quem sabe, um dia podermos ficar esclarecidos!Eu não me canso de explorar!
Os seres humanos anatomicamente modernos surgiram entre 200 mil e 160 mil anos atrás. Como o que chamamos de “civilização” começou há apenas 10 mil anos, com o advento da agricultura, uma pergunta natural é por que a humanidade permaneceu tanto tempo estacionada? A tese de uma “raça adâmica” (ou capelina, se preferir) até que poderia explicar bem essa longa estase ao alegar que só após um empurrão inicial dado pelos espíritos imigrantes é que nossos ancestrais saíram da letargia. O problema é que ela gera uma nova pergunta: por que essa imigração demorou tanto? Outra alternativa é procurar uma resposta por aqui mesmo.
Ossos são capazes de contar algo sobre nossos hábitos ou o que vivenciamos, mas não revelam tanto sobre como pensamos, afinal o cérebro não se fossiliza. Ainda assim ele deixa um “rastro” de seu funcionamento por meio dos pertences que sobrevivem a nós. Não somos a única espécie animal a se valer de ferramentas: elefantes usam galhos para se coçar, macacos se valem de pedras para quebrar cascas e de talos para capturar cupins, mas só a linhagem de hominídeos que nos deu origem foi capaz de usar ferramentas para fabricar outras mais sofisticadas. Artefatos especializados de pedra lascada existem desde os tempos do Homo Habilis, há cerca dois milhões de anos, e cada nova espécie do gênero homo aumentava a complexidade delas. Ao que o registro paleoantropológico fornece, esse desenvolvimento não foi contínuo, mas acelerado nos estágios iniciais de um novo tipo, para depois estagnar-se. De certa forma, nossos ancestrais eram conservadores.
Por volta de 40 a 50 mil atrás (ou, quem sabe, 100 mil anos), embora anatomicamente a espécie homo sapiens permanecesse a mesma, alguma coisa mudou em sua fisiologia, no modo como seu cérebro funcionava. As ferramentas de pedra continuaram a ser fabricadas, só que agora eram produzidas ao lado de inusitados artefatos.
Ao contrário das ferramentas produzidas até então, esses objetos não tinham, sob um olhar bem estrito, nenhuma aplicação prática sequer. Contudo, esses primórdios da arte se revelam ser a exteriorização que chegou até nós de uma aquisição mais profunda e extremamente útil de nossos antepassados diretos: o raciocínio simbólico. A erupção da arte pré-histórica indica quando o cérebro humano atingiu a capacidade de não apenas reagir ao mundo exterior, mas também produzir uma própria realidade, um mundo interior.
Não foi a arte que levou a um salto evolutivo, pois suas vantagens na luta pela sobrevivência não são tão imediatas quanto a das ferramentas. Na verdade, a ela deve ter sido um subproduto do raciocínio simbólico. Graças a ele é possível se desenvolver estratégias de longo prazo, níveis sofisticados de linguagem e a religiosidade, que daria suporte nas vicissitudes.
O que teria desencadeado tal mudança? Aqui se entra no território das conjecturas, onde hipóteses plausíveis podem ser dadas embora uma validação completa só fosse possível com a invenção de uma máquina do tempo (ou que permitisse ver o passado). Um leitor espiritualista poderia alegar que foi a suposta migração espiritual interplanetária que deu origem aos humanos fisiologicamente modernos, mas de que adiantaria colocar espíritos mais avançados em corpos que não estariam preparados para eles? Cogitemos uma engenharia genética “em outro plano”, então porque a espécie escolhida foi a de nossos ancestrais e não a de seus primos neandertais, com quem conviveram por um bom tempo? Sem contar que a capacidade craniana deles era 10% maior que a nossa e, mesmo com todo esse tamanho, suas manifestações culturais foram bem mais modestas.
A razão pode estar bem aqui neste planeta, não grafada em livros – eram tempos ágrafos, lembre-se – nem em pinturas de cavernas, pois o horizonte de nossos ancestrais era limitado à memória dos anciãos, mas registrada na própria natureza. Nesse caso falo do gelo preservado na Groenlândia, um genuíno sobrevivente das era glaciais mais recentes deste planeta. A análise das camadas que o compõe revelam que o (sub)período geológico conhecido como Holoceno (de 10 mil anos atrás até hoje) foi consideravelmente quente se comparado com o anterior – o Eemiano (120 mil a 10 mil anos atrás), época em que se desenrolou a maior parte da existência de nossa espécie. E quando postos lado a lado os gráficos de Temperatura Média por Tempo de ambos os períodos, o que chama mais atenção é a amplitude das oscilações do Eemiano, mesmo se levando em conta sua duração maior. Esses extremos de rigor ficaram gravados na (relativamente) pequena variabilidade genética atual da espécie humana quando comparada a outras muito mais diversificadas: originamo-nos de poucos e quase fomos extintos nesse período. Os que sobreviveram o conseguiram, provavelmente, por causa dessa mutação na fisiologia cerebral e a repassaram adiante. Foi a velha seleção natural em ação.
Maria Augusta da Silva Caliari e Pesquisa via Google-Internet-Forum Espirita.net
Enviado por Maria Augusta da Silva Caliari em 28/06/2014
Alterado em 08/12/2015