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"Os Druidas e a modernidade!"

Em 1943 foram descobertos indícios arqueológicos que podem estar ligados a este último bastião dos druidas em Mona, depositados num lago da ilha conhecida como Llyn Cerrig Bach. O notável esconderijo de cento e cinquenta objectos continha armas de ferro e de bronze, carruagens e caldeirões, e foi datado entre o Século II a. C. e o Século I d. C. Os objectos parecem ter sido atirados deliberadamente ao lago como algum tipo de dádiva. Os estudiosos do assunto avançaram a hipótese de que esta oferenda deliberada de preciosos objetos de metal pode ter sido feita pelos druidas sobreviventes de Mona, para apaziguarem os deuses após a vandalização generalizada dos santuários druídicos da ilha pelos Romanos.
Depois do massacre de Mona, o druidismo parece ter sido ilegalizado por Roma, o que provavelmente significou o fim do sacerdócio organizado, apesar de os druidas não terem decerto desaparecido completamente (em particular na Escócia, na Irlanda e talvez em certas partes de Gales). Na Irlanda, os druidas mantiveram a sua proeminente posição social até à chegada do Cristianismo e o seu papel passou a ser desempenhado pelo clero. Muitos contos épicos antigos de Gales e da Irlanda, falam dos druidas, apesar de termos de considerar que tudo o que lhes sobreviveu foi editado por escribas cristãos. Na literatura irlandesa, os druidas são muitas vezes vistos no papel de conselheiros reais; talvez o exemplo mais famoso seja o de Cathbad, druida-chefe na corte de Conchobar, rei do Ulster. Outro exemplo famoso é o de Mug Ruith, o poderoso druida cego de Munster, a província mais a sul da Irlanda. Mug Ruith tinha a capacidade de aumentar enormemente o seu tamanho, de convocar tempestades e transformar homens em pedra. A sua aparência xamanística era conseguida com uma pele de boi sem chifres, uma máscara de pássaro e uma touca de penas. A filha de Mug Ruith, Tlachtga, era uma druida reconhecida, que acabou por dar o seu nome a um monte no condado deMeath e a uma cerimónia lá realizada – o acender dos fogos de Inverno em Samhain (1 de Novembro), um antigo festival celta que outrora foi provavelmente presidido pelos druidas.
Só no Século XVIII, com o reacender do interesse sobre a religião natural e as tradições nativas, o druidismo voltou à ribalta. Muito deste interesse teve origem em antiquários como William Stukeley, John Aubrey e John Toland. John Aubrey (1626-1697) foi o primeiro autor moderno a afirmar que Stonehenge, Avebury e outros monumentos pré-históricos em Inglaterra estavam ligados aos druidas. Um seguidor das teorias deAubrey, o escritor e pensador radical nascido na Irlanda, John Toland, aparentemente fundou em Londres a Ordem Antiga dos Druidas por volta de 1717; em 1726 publicou a sua «History of the Druids». William Stukeley (1687-1765) foi um antiquário e arqueólogo pioneiro, que se tornou secretário da Sociedade dos Antiquários em 1718. As suas investigações, anotações e desenhos de locais neolíticos, como Stonehenge eAvebury, ainda têm um grande valor para os arqueólogos e historiadores de hoje. Contudo, também ele estava sob o feitiço de Aubrey e atribuiu muitos monumentos pré-históricos ao único povo britânico da antiguidade então conhecido, os druidas. Ele publicou «Stonehenge, a Temple Restaured to the British Druids» em 1740 e «Avebury, a Temple of the British Druids» em 1743, tendo sido ambos extremamente influentes no renascimento moderno do druidismo.
Na Gales do Século XIX acreditava-se que a tradição poética galesa remontava aos druidas. O antiquário galês Edward Williams, sob o pseudónimo Iolo Morganwg, fundou o Gorsedd Beirdd Ynys Prydain (a Comunidade dos Bardos da Grã–Bretanha) emPrimrose Hill, Londres, em 1792. Apesar de os rituais serem supostamente baseados em antigas cerimónias druidicas, muitas foram de fato escritas pelo próprio Williams. O druidismo faz também parte da inspiração subjacente ao Eistedfodd, um festival galês de literatura, música e teatro, que remonta pelo menos ao Século XII, apesar de o seu formato moderno ter sido muito influenciado pelo renascimento dos festivais culturais galeses no Século XVIII. Existem ordens druidicas modernas, como se pode testemunhar todos os anos em Stonehenge no solstício de Verão, com o aparecimento da Antiga Ordem dos Druidas. Fundada em Londres em 1781 (nos mesmos moldes de uma sociedade maçónica), esta ordem chegou a ter William Churchill como membro, que parece ter aderido à sua Casa de Albion, em Oxford, em 1908.
É difícil dizer se algo terá sobrevivido das crenças e rituais druídicos originais nos dias de hoje. Praticamente tudo o que existe no druidismo moderno tem a sua origem no romantismo dos Séculos XVIII e XIX. Talvez ainda se encontrem ecos dos antigos druidas britânicos nas crenças populares relacionadas com o culto dos poços e certas práticas ligadas a celebrações como o Halloween. A utilização de máscaras noHalloween para afastar os espíritos maléficos remonta às cerimónias celtas do Samhain, tradicionalmente celebradas no início do Inverno, a 1 de Novembro. Outra grande celebração celta era o Beltaine, um festival que tinha lugar a 30 de Abril ou 1 de Maiopara celebrar a chegada do Verão e também a origem do May Day. Na véspera de Maioeram acesas grandes fogueiras no cume dos montes e os druidas guiavam o gado através das chamas para o purificarem; as pessoas também saltavam por cima das fogueiras para assegurarem uma colheita abundante. Talvez até os míticos habitantes da floresta, como as fadas e os woodwoses (homens selvagens e cabeludos da floresta), sejam os últimos e vagos resquícios das tradições sagradas dos outrora grandes druidas.
Maria Augusta da Silva Caliari e pesquisa no IG-Google
Enviado por Maria Augusta da Silva Caliari em 23/03/2015
Alterado em 19/11/2015


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