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"A Filosofia de Bruce Lee!"

Bruce Lee é um dos personagens mais fascinantes das artes marciais. Considerado por muitos como um autêntico ícone cultural, ele não foi apenas um ator, diretor, mestre das artes marciais e fundador do sistema Jeet Kune Do de combate, mas também um filósofo que considerava as artes marciais como uma metáfora para a sabedoria universal.
Por muito tempo, muito do que Bruce Lee pensava e dizia parecia estar em contradição com o que é pregado pelo cristianismo, algo que, de certa maneira, fez com que suas ideias não fossem compreendidas pelos seus seguidores e alunos do ocidente, que o trataram mais como um artista e lutador do que como um verdadeiro sábio.
Mas este panorama perdeu sua razão de existir a partir do momento em que foram descobertos os textos gnósticos contidos na Biblioteca de Nag Hammadi. O conteúdo destes textos mostra um outro lado do cristianismo, contrário à ortodoxia que se consolidou com o passar dos séculos, e que ficou conhecido como Gnosticismo.
Há cerca de 18 ou 19 séculos, a Igreja Católica, amparada pelos esforços do Império Romano para se manter intacto, considerou o Gnosticismo uma heresia que deveria ser perseguida e extinta, assim como seus diversos escritos.
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o catolicismo é apenas uma das muitas seitas cristãs que se desenvolveram a partir do trabalho realizado pelos apóstolos de Jesus.
Naquela época havia muitos grupos cristãos, e hoje se sabe todos eles eram legítimos – o Cristianismo de Paulo de Tarso, o Cristianismo Judaico e o Cristianismo Gnóstico. Todos eles possuíam suas escolas, seus ritos e seus evangelhos próprios. Mais que isso, cada evangelho descrevia de maneira diferente a mensagem deixada por Jesus.
Para os cristãos gnósticos, a salvação não era uma questão de fidelidade a uma Igreja, mas sim o fruto de um esforço do próprio indivíduo para desenvolver sua luz interior. Não era a crença em Jesus que os salvaria, mas a intimidade espiritual com um Jesus Místico, uma potência psíquica que só pode ser encontrada dentro de si próprio.
Esta intimidade era alcançada através da Gnosis, uma experiência transcendente que leva ao conhecimento direto e transcendente da verdadeira natureza espiritual, ou seja, do próprio Deus e de seus Mistérios. Desta forma, a busca pelo conhecimento de Deus passava necessariamente pelo conhecimento de si mesmo, o autoconhecimento.
De acordo com George James, professor de Religião e Filosofia na Universidade do Norte do Texas, há uma razão histórica para esta conexão entre o pensamento gnóstico e a filosofia de Bruce Lee. Afirma o professor que o Budismo, que começou na região do nordeste da Índia no século V a.C., já no século I d.C. havia se expandido para o oeste, tão longe quanto o próprio Oriente Médio.
Os estudantes e praticantes da filosofia de Bruce Lee encontrarão uma grande familiaridade com este pensamento. Como um verdadeiro gnóstico, Lee valorizava o conhecimento de si mesmo e desprezava a racionalização, aspecto que impede o desenvolvimento tanto nas artes marciais como na espiritualidade. Ele dizia:
“O processo de amadurecimento não significa converter-se em um prisioneiro da conceitualização, mas sim chegar a dar-se conta daquilo que reside em nosso eu mais profundo.”
Entre muitas outras coisas, os gnósticos concebiam que todos nós somos na verdade fragmentos de Deus, emanados de um todo maior, de uma fonte primordial, com o objetivo de alcançar este autoconhecimento. Esta ideia monista de unidade de todas as coisas é compartilhada pelo Taoismo, uma das correntes de pensamento que exerceram maior influência sobre Bruce Lee, pois ele diz:
“O Taoismo é a filosofia da unidade essencial do universo, o retorno de tudo ao primitivo, à inteligência divina, a fonte de todas as coisas. Esta filosofia ensina com naturalidade a ausência do desejo pela disputa e pela superioridade.”
Ao descrever o conceito fundamental de sua obra filosófica O Círculo de Ferro, ele descreve com perfeição o objetivo do Gnosticismo:
“Basicamente, esta é uma história da luta de um homem por sua liberação, a volta ao sentido original de liberdade.”
As semelhanças entre a tradição gnóstica e a filosofia de Bruce Lee residem na universalidade de pensamento. Os Evangelhos Gnósticos compartilham os princípios ensinados por budistas, chineses e hinduístas. Esta universalidade fala sobre a unicidade do espírito humano, algo como a existência de uma única família espiritual. E para o historiador John Little, diretor da Fundação Educacional Bruce Lee, era esta a busca do filósofo.
Assim como os gnósticos, Bruce Lee se rebelou contra a ideia de uma doutrina organizada. E esta foi uma das principais causas dos ataques da Igreja Católica ao Gnosticismo. O próprio Bruce Lee experimentou uma forma eclesiástica opressivas quando foi educado dentro do sistema católico no Colégio La Salle, em Hong Kong.
É algo muito provável que a experiência de Bruce Lee com o catolicismo tenha sido fundamental para sua decisão de rejeitar o conceito de estilos e de organização rígida. Em sua biografia Artist of Life, encontramos um incrível paralelo com as opiniões da tradição gnóstica:
“Por um erro repetido através do tempo, a verdade, convertendo-se em uma lei ou fé, coloca obstáculos no caminho do conhecimento. O método, cuja substância principal é a própria ignorância, engloba “a verdade” dentro de um círculo vicioso. Deveríamos romper tais círculos não através da busca pelo conhecimento, mas descobrindo a causa da ignorância.”
Para os gnósticos, o dogma religioso organizado é uma armadilha que cega o crente no pensamento de que encontrou a salvação, enquanto seu verdadeiro espírito permanece inerte, adormecido. Este é exatamente um argumento que Bruce Lee aplicou especificamente às artes marciais, bem como à vida em geral:

“O fundador de um estilo pode estar exposto a uma verdade parcial, mas conforme o tempo vai passando, especialmente depois que o fundador já está morto, “seus” postulados, “sua” inclinação, “sua” fórmula conclusiva, se convertem em uma seita. Os credos são inventados, são prescritas solenes cerimônias de reforço, se formulam filosofias separatistas e, finalmente, as instituições são erigidas. Aquilo que teve início como uma espécie de fluidez de seu fundador é agora um conhecimento solidificado e fixo, uma resposta organizada e classificada, apresentada seguindo uma ordem lógica, uma panaceia destinada a condicionar as massas. Desta forma, os seguidores fazem deste conhecimento não só um altar sagrado, mas também uma tumba onde sepultam a sabedoria do fundador.”

Bruce Lee era gnóstico em muitos sentidos. Quando perguntado se acreditava em Deus, ele respondeu:

“Para ser perfeitamente franco, na verdade não.”

Isso não significa que Bruce Lee era um ateu, mas sim que experimentava a Deus de uma maneira que os gnósticos de todas as épocas sempre o fizeram. Esta maneira pode ser entendida através do conteúdo de uma carta que Bruce Lee endereçou à sua amiga Pearl Tso, onde se lê:

“Seja o Deus Supremo ou não, sinto esta grande força, este poder revelado, este algo dinâmico comigo. É um sentimento que desafia a descrição, e não há experiência com a qual se possa comparar este sentimento. É algo como uma forte emoção mesclada com fé, só que muitas vezes mais forte.”

Atualmente, tal como o próprio Cristo, o Cristianismo Gnóstico ressuscitou, graças a muitos fatores, entre eles a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi. Novas igrejas vêm sendo estabelecidas em todas as partes do mundo, e uma nova cultura está sendo forjada para uma Nova Era de universalismo, onde a religião pode ser praticada também, inclusive, através das artes marciais, desde que se saiba com elas alcançar o autoconhecimento.

Enfim, a filosofia gnóstica de Bruce Lee pode ser expressa através dos seguintes versos que ele compôs:

Desejaria não possuir,
Nem ser possuído.

Já não ambiciono mais o paraíso,
Mais importante, não temerei mais o inferno.

A medicina para meu sofrimento
Tinha-a dentro de mim desde el principio,
Mas não a tomava.

Meu sofrimento vinha de meu interior,
Mas não o observava
Até este momento.

Agora vejo que nunca encontrarei a luz
A menos que, como a vela, seja meu próprio combustível,
Consumindo-me a mim mesmo.

Sociedade Gnóstica- Giordano Cimadon
Maria Augusta da Silva Caliari e pesquisa Google- wikipédia a enciclopédia livre
Enviado por Maria Augusta da Silva Caliari em 04/07/2015
Alterado em 15/11/2015


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