"Conto de mistério II !"
...De repente, despertei de sobressalto com alguém gritando no meu ouvido: -Você consegue me ver agora?!. Quando abri os olhos dei de cara com uma visão que quase me fez ter um infarto. Diante de mim estava um velho decrépito, com o corpo nu e imundo, me encarando com um sorriso desdentado e um brilho amarelado no olhar. Gritei de pavor, enquanto levantava de sobressalto, e gritei de novo ao ver mais uns sete ou oito sujeitos tão horríveis quanto o primeiro caminhando em círculos em torno do meu grupo de amigos que estava sentado no chão.
– Vixe, começou a ter chiliques de novo! – debochou um dos rapazes apontando o dedo para mim, enquanto todos caiam nas gargalhadas. Era óbvio que eles não estavam vendo as criaturas.
– Vamos sair daqui! Rápido! – gritei, praticamente me atirando pelas escadas, tão apavorado que nem me preocupei em esperar pelos outros.
Enquanto descia os degraus o mais rápido que podia, vislumbrava por entre as sombras dos andares vazios vultos que se esgueiravam, me observando e fazendo menção de me seguir. Na minha cabeça, ecoava a voz daquele velho horrendo fazendo provocações. -Volte aqui, machão! Não chore!- Não era você o mais forte de todos?! Não vá fazer caca nas calças!
Quando cheguei na rua, saí correndo sem rumo. Trombei em algumas pessoas que me xingaram enquanto outras tentaram me segurar, mas não conseguiram. Em certo momento, olhei para a frente e vi, na esquina, um grupo daqueles seres terríveis gesticulando, como se para me recepcionar. Ninguém mais parecia ver aquilo além de mim. Por instinto, fiz uma curva para e esquerda e adentrei no gramado do pátio escuro de uma casa vazia. Cai, desajeitado, e sem saber o que fazer, cobri a cabeça com as mãos e comecei a rezar o Pai Nosso, entremeio a pedidos de socorro e promessas mentais de que, se conseguisse sair daquela situação, seria um cara diferente.
Eu ouvia as vozes daquelas criaturas se aproximando e dando risada, e, quando já estava prestes a ter um colapso de tanto medo, escutei um estrondo estranho e percebi um clarão. Instintivamente, espiei entre os dedos que cobriam meu rosto e vi alguns daqueles seres se afastando rapidamente em meio a escuridão. Surgiu então um sujeito cuja presença emanava uma força descomunal. Usava camisa branca, capa preta e uma cartola esquisita. Tinha barba espessa e um sorriso irônico nos lábios. Imediatamente entendi que fora ele quem espantou aquelas coisas.
–Obrigado! Muito obrigado! – balbuciava eu, entre lágrimas.
– Ao invés de agradecer, se preocupe em cumprir sua promessa. – disse o sujeito, de forma ríspida – Agora você vai ter que nos ser útil, senão, eu mesmo vou me encarregar de mostrar o que acontece com quem não cumpre o que promete.
– O que preciso fazer…? – perguntei, com voz embargada.
– Na hora certa você saberá. Agora vá para casa e verifique se não borrou a cueca. – respondeu ele, de forma irônica enquanto se afastava em direção às sombras.
– Como é o seu nome? – questionei, tirando coragem não sei de onde.
– Curioso você, hein? – ressoou a voz dele, mesmo que eu não conseguisse mais avistá-lo – O meu nome é agora.
Permaneci alguns instantes ali, ajoelhado na grama, sem entender o que ele quis dizer. Então, tive um estalo e olhei para o relógio no meu pulso. Haviam passado dois minutos da meia-noite.
Enviado por Maria Augusta da Silva Caliari em 31/03/2019