"Heroína Rewanhiré-Cacica da Aldeia de Paranoá!"
Para não passar fome, a cacica da aldeia Paranoá, Heroína Rewanhiré, decidiu ir à cidade de Barra do Garças, no leste de Mato Grosso, pedir doações. Aos 93 anos, a anciã se esforçava para levar comida às sete famílias do povo Xavante de seu território, que desde o início da pandemia sofrem com o agravamento de um problema crônico: a falta de alimentos. Em 29 de dezembro passado, ela conseguiu seis cestas básicas na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município. Mas, naquele dia, Heroína estava sem dinheiro para retornar. Assim como a Funai, que não tinha verbas para abastecer quatro camionetes paradas no pátio sem combustível. E mesmo se tivesse não havia funcionários à disposição para dirigir os veículos. A cacica teve, então, de esperar mais duas semanas até conseguir uma carona para levá-la de volta ao seu povo.
Ela é irmã de Mário Juruna – uma liderança histórica dos Xavante que morreu em 2002, sendo o primeiro indígena brasileiro a se tornar deputado federal. Sempre que vai à cidade, a cacica tem de ficar na casa de uma filha. O local é afastado do centro, onde fica a coordenação regional da Funai. Isso a obrigava a caminhar por pelo menos meia hora até chegar ao órgão.
Dos 80 indígenas que vivem na aldeia Paranoá, cerca de 20 são crianças e adolescentes. Sem incentivo para a produção na própria terra e diante de uma política pública que não garante a segurança alimentar, os indígenas se tornaram dependentes de doações de cestas básicas. E mesmo quando chegam, elas não conseguem atingir todas as aldeias. Às vezes, a fome é tanta que não chegam a durar uma semana. Entre morrer de fome ou contaminado pela Covid-19, os povos têm se arriscado a ir para a cidade. O desespero se reflete nos olhos dos pequenos.